domingo, 11 de outubro de 2009

E a clínica de Psicologia, como vai? - Apresentação de resultados.


Como prometido em uma postagem anterior eu realizei um levantamento de informações a respeito da vida profissional do Psicólogo Clínico brasileiro com o objetivo de investigar quais são as principais dificuldades enfrentadas no início da atuação profissional, quais as vantagens encontradas por eles logo ao começarem atuar na clínica e após alguma experiência, e se os psicólogos clínicos tem trabalhado também em outras áreas além da clínica - bem como os motivos disto -, além de saber quais são os conselhos dados a nós, graduandos e recém graduados, pelos psicólogos mais experientes.

A idéia desta pesquisa - que não tem por pretensão ser científico-acadêmica -, nasceu de conversas eu eu vinha tendo com alunos de graduação do curso de Psicologia e psicólogos recém-graduados que se interessam pela área clínica. 


Um total de 55 questionários com questões abertas foram distribuídos de forma aleatória probabilística via e-mail e msn para psicólogos clínicos de diversas partes do país; a saber, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais. Dos 55 questionários distribuídos, apenas 32 foram respondidos e enviados e volta. A coleta de dados demorou um pouco, por isto a demora em elaborar esta postagem.

 Compilação dos dados:


1 - Tempo de experiência clínica:

O tempo de experiência dos entrevistados varia entre 2 e 9 anos.

2 - Principais dificuldades enfrentadas:

Dos psicólogos que responderam a pesquisa, 50% relatam ter tido dificuldades com a baixa clientela no início de sua vida profissional na clínica; - 9% relatam dificuldades no atendimento de algumas psicopatologias; -19% relatam além de dificuldades no atendimento de algumas psicopatologias, também  relatam dificuldades relativas à baixa clientela; - 13% relatam problemas com inadimplência por parte de seus clientes; - 3% relatam além de inadimplência, dificuldades também com baixa clientela, e; - 6% relatam ter, desde o início, trabalhado em clínicas conhecidas e  não terem enfrentado dificuldades no início da vida clínica (figura 1)






3 - Atuação em áreas complementares:

Grande maioria dos entrevistados atuou ou atua em outras áreas além da clínica.  Na docência, temos um total de 37% dos entrevistados; - na área escolar, um total de 22%; - na área organizacional, um total de 13%, e; entre outras áreas, 9% dos entrevistados.




Entre os motivos dados pelos participantes para atuarem em outras áreas, temos a necessidade de melhores condições financeiras - 72%, e o gosto por estas outras áreas - 28%.




4 - Vantagens e desvantagens encontradas pelo recém-formado ao trabalhar na clínica:

Todos os entrevistados concordaram que não há vantagem em atuar  só na clínica logo ao sair do curso; no entanto, alguns ressaltam que, após algum tempo de experiência, quando se conquista clientes o bastante e reconhecimento profissional, é com certeza uma das áreas mais gratificantes da Psicologia.

5 - Conselhos dados pelos participantes da pesquisa a nós, graduandos e recém-formados:

Os participantes ressaltaram a importância da supervisão de atendimento clínico, especialmente no início, onde podem aparecer casos que, em função da pouca experiência podemos não ter ainda repertório adequado para trabalharmos; enfatizaram também a importância da psicoterapia para o psicólogo clínico; enfatizaram a importância de se pós-graduar; a importância ter tolerância à frutração e não desistir perante as dificuldades; e também o quanto é arriscado uma pessoa desconhecida no mercado profissional e social, sem experiência, sem fontes de encaminhamento, abrir uma clínica logo que sai da faculdade.

Alguns comentários sobre os dados


Imensa maioria dos psicólogos entrevistados - um total de 94% - relata algum tipo de dificuldade no início de sua atuação na clínica; seja ela por aspectos financeiros - 66% -,  decorrentes de inadimplência ou baixa procura pela sua clínica; ou práticos - 28% -, em decorrência da pouca experiência e aparecimento de casos de difícil solução. Esses dados sugerem a necessidade tanto de atuação em outra área além da clínica, pelo menos no início - no que se refere a aspectos financeiros -, quanto de supervisão e pós-graduação, o que mune o recém-formado de mais e melhores artifícios para lidar com as diferentes demandas de sua clínica.

É importante ressaltar que o mau profissional - aquele que não possui conhecimento  e habilidade para atender a demanda que lhe é apresentada - dificilmente irá conquistar clientela e confiança de outros profissionais da saúde, potenciais fontes de encaminhamento e indicação de novos clientes. Por outro lado, quem consegue fazer um trabalho bem feito ganha respeito e reconhecimento por parte dos que são atendidos por ele e de outros profissionais de saúde que o conhecem - daí a necessidade de uma supervisão e uma pós-graduação -, fatores que aumentam a probabilidade do psicólogo fazer um trabalho bem feito.

Um total de 81% dos psicólogos entrevistados diz ter atuado ou atuarem em outras áreas além da clínica. Grande maioria - 72% -, explica isto pela dificuldade em se estabelecer como psicólogo clínico logo ao sair da graduação; dado que é apoiado pelo consenso entre os entrevistados de que não há vantagem nenhuma em se começar na clinica. A situação, porém, não é tão assustadora como parece. Muitos ressaltaram que, após obter estabilidade financeira, a clínica pode ser uma das áreas mais gratificantes da psicologia.

Apenas 6% - os quais começaram trabalhando em clínicas conhecidas e respeitadas -, não relataram dificuldades financeiras ou técnicas. Provavelmente estes, por não terem tido problemas por causa da falta de clientes, tiveram condições de pagar uma supervisão ou pós-graduação mais cedo, o que aumenta a probabilidade de fazerem um trabalho bem feito.

Considerações finais


Algumas das principais limitações do estudo referem-se ao delineamento da amostra, levantamento bibliográfico e questões que deixaram de ser abordadas pelo instrumento utilizado.

A amostra é relativamente pequena, composta por apenas 32 participantes, selecionados de maneira probabilística. Não foi realizado um levantamento bibliográfico, que possibilitaria uma discussão mais segura dos dados comparando-os com pesquisas anteriores. Com relação ao instrumento utilizado, durante a análise dos dados surgiram algumas questões que poderiam ter sido abordadas, mas que poderão ser em uma possível oportunidade futura.

As limitações apontadas de modo algum ferem aos objetivos da pesquisa, mas servem para suscitar a necessidade de desenvolvimento de um estudo mais amplo e cuidadoso; quem sabe, como iniciação científica.

2 comentários:

aninafofuxa disse...

Parabéns pela postagem Neto, muito boa a sua iniciativa. Isso é vai sim ajudar muita gente... vou indicar esse blog pra outras pessoas... beijos

mayazani disse...

muito boa a postagem, parabéns. eles afirmaram que a psicologia pode se tornar gratificante após um tempo de experiencia, mas gratificante financeiramente ou realização profissional?