sábado, 12 de junho de 2010

O dia dos namorados, o amor, e o reforço positivo.

De acordo com o site Brasil Escola [1], o dia dos namorados surgiu como uma festa que era realizada no dia 15 de fevereiro em agradecimento aos deuses Juno e Lupercos, considerados protetores dos casais, à fertilidade da terra e sucesso na colheita. No dia desta festa, os homens escreviam em pequenos pedaços de papel o nome das moças do vilarejo. Em seguida, estes papéizinhos eram sorteados entre eles, e cada um pegava o nome da mulher que posteriormente se tornaria sua esposa. 


Esse costume impedia muitos casais apaixonados de se casarem. As famílias não permitiam que a regra fosse quebrada, cada homem tinha que se casar com aquela mulher cujo nome havia pegado. Um padre chamado Valentin, no entanto, começou a celebrar o casamento dos apaixonados no dia 14 de fevereiro, um dia antes da festa em agradecimento aos santos; para que, assim, os pombinhos pudessem fugir e serem felizes com a benção de Deus. A partir de então, esta data ficou conhecida como Dia de São Valentin (ou Vantine's Day).

No Brasil o costume de festejar o dia dos namorados foi trazido pelo empresário João Dória, e a data escolhida foi o 12 de junho por causa da proximidade com o dia de Santo Antônio - o santo casamenteiro -, como uma estratégia de mercado.

Tornou-se costume presentear o cônjuge ou namorado (a) nesta data para sinalizar todo o amor que sentimos por ele/a. 

Pensando nisso eu me fiz uma pergunta: o amor precisa de provas?



Me lembrei que há algum tempo o Rodrigo havia postado no Olhar Comportamental [2] (antigo olhar beheca) um texto a respeito disso e, é a a partir deste texto, que desenvolverei a minha discussão. 

O Sd para que o Rodrigo escrevesse foi aquela música dos Titãs chamada Provas de Amor. A música diz que não existe amor, mas apenas provas de amor - e foi deste ponto que a texto discorreu sobre: 1) sentir-se amado, 2) provar o amor, e 3) abstrair sentimentos e ações de uma palavra tão simples. 

No primeiro capítulo do livro Questões Recentes na Análise Comportamental[3], Skinner diz que "existe, sem dúvida, um elemento reforçador no amor", e completa explicando que "tudo o que os amantes fazem no sentido de ficarem juntos ou evitarem a separação é reforçado por essas consequências, e é por isso que eles passam juntos a maior parte do tempo possível". Skinner ainda lembra que "nós descrevemos o efeito interno de um reforçador quando dizemos que ele 'nos dá prazer', ou 'faz com que nos sintamos bem', e nesse sentido, 'eu te amo' significa 'você me dá prazer ou me faz sentir bem'" (p.16). 

Se amor é, então, apenas um outro nome para reforçamento positivo (Skinner, 1948, p. 282)[4] podemos dizer  que o que nos faz amar a outra pessoa é o  conjunto de consequências que ela  oferece[5] a certas respostas que emitimos. Por exemplo [6], um sorriso como consequência de um olhar; uma conversa "interessante" como consequência de uma ligação; um abraço apertado como consequência de uma visita; e assim por diante. Se, para mim, o sorriso, a conversa e o abraço são reforçadores, a tendência é que eu volte a olhar para a pessoa, volte a ligar para ela e volte a visitá-la no futuro. Estas classes de respostas podem ir aumentando de frequência até um ponto onde muito do que fazemos é no sentido de nos aproximarmos do outro para, deste modo, entrarmos em contato com seus abraços, conversa, sorrisos, etc.

Quando isso acontece, geralmente procuramos fazer com que a pessoa também se aproxime de nós. Damos presentes, elogiamos, tentamos fazer com que ela ria, etc., e quando fazemos com que ela também procure ficar perto de nós, dizemos que a estamos conquistando. Nossos atos são no sentido de reforçar  na outra pessoa padrões de resposta semelhantes àqueles que aumentaram de frequência em nosso repertório.

 Quando, na ausência desta pessoa, estas resposta não são mais reforçadas, são observados alguns dos efeitos da extinção como a emissão de respostas emocionais geralmente descritas como aperto no peito, vontade de chorar, entre outras. A tendência é um aumento das respostas que podem nos colocar novamente em contato com aquela pessoa - como ligar pra ela, visitá-la, mandar e-mail, etc. - e se isto de fato tiver como consequência trazer a pessoa pra perto, provavelmente voltaremos a fazê-lo no futuro.

Em um texto tão generalista é impossível falar de modo satisfatório sobre o amor, até porque é um tema muito complexo. Este texto, então, visa apenas instroduzir o tema a partir de um viés comportamental. Quem quiser se aprofundar em leituras comportamentais sobre o tema deve ler o texto do Questões Recentes na Análise Comportamental indicado logo abaixo.

Quanto à pergunta inicial, eu a jogo de volta: você acredita que o amor precisa de provas?

Voltando ao texto do Rodrigo que tive como base e também a discussão anterior que aqui foi feita,  respondo a pergunta alterando-a para: o que é o amor, se não suas provas? A palavra amor é, tão somente, uma abstração, um rótulo que se atribui a um conjunto de respostas (sensações e atos/ pensamentos) que emitimos. O amor, então, não existe. - a não ser apenas como este rótulo. O que existem, de fato, são suas provas; isto é, as respostas que podem ser rotuladas como amor.



Locais consultados, observações e agradecimentos:

[1] Texto Dia dos Namorados Site Brasil Escola - consultado dia 12 de junho de 2010.
[2] Texto Existem provas de amor, não existe amor - Titãs ou B.F. Skinner? - Blog Olhar Comportamental - consultado dia 12 de junho de 2010.
[3] Livro Questões Recentes na Análise Comportamental - B. F. Skinner - 6º edição, 2006, Ed. Papirus.
[4] Livro Wallden II - B.F. Skinner - 2ª edição, 1978, Ed. São Paulo.
[5] A pessoa na verdade não oferece consequências de modo voluntário. Diz-se, no entanto, que suas características ou atos reforçam nossas respostas. Olhar é consequenciado com ver; que, por sua vez, é consequenciado com as sensações que o ver nos causa.
[6] Os exemplos são ilustrativos. Por exemplo, o prazer que sentimos ao ver alguém pode ser, em partes, fruto de um pareamento entre o que é visto e um estímulo reforçador. O que sentimos, portanto, seria efeito de exposição a reforço condicionado. Estes reforçadores condicionados irão variar de pessoa para pessoa, conforme as contingências nas quais se inseriu ao longo de sua vida.
[7] Agradecimentos para Felipe Epaminondas, autor do blog Psicológico (link aqui), para Izabel Valle, e para Thiago Yokota, os quais apresentaram ótimas sugestões de revisão ao texto.
[8] Dos três tipos de amor que os gregos falavam, também discutidos por Skinner (Eros, Philos e Ágape), discutí aqui apenas o que se pode chamar de Eros. De tão amplo que o tema é, se tornaria impossível limitá-lo. 

4 comentários:

J disse...

"Quando isso acontece, geralmente procuramos fazer com que a pessoa também se aproxime de nós. Damos presentes, elogiamos, tentamos fazer com que ela ria, etc., e quando fazemos com que ela também procure ficar perto de nós, dizemos que a estamos conquistando. Nossos atos são no sentido de reforçar na outra pessoa padrões de resposta semelhantes àqueles que aumentaram de frequência em nosso repertório."


Concordo plenamente. Mas, nessa data de Dia dos Namorados, o que mais mantém esse comportamento de presentear é a tradição, né?
E, claro, a esquiva de possíveis comportamentos categorizados como "desapontamento", "decepção" ou outros do gênero n@ namorad@ que não foi presentead@! Como em aniversários e no Natal.
Se não, seria apenas mais uma data comum no calendário. E @ namorad@ reforçaria o outro com presentes em datas aleatórias.

Daniel Gontijo disse...

Certa vez uma colega ficou inconformada com o meu comentário de que "namoramos por interesse". Não sei se no final das contas ela captou que o interesse de que eu tratava dizia respeito às consequências que comum e simplesmente rotulamos de prazer, conforto, segurança, bem-estar - como você bem fez referência no texto.

A propósito desses rótulos, Neto, não vejo por que inferir que o amor não existe. Uma vez que você afirma que o amor é um conjunto de respostas que emitimos e eliciamos, logo ele existe. Imagine um físico afirmar que o comportamento não existe, mas sim um aglomerado atômico estável e proliferável - o organismo - que muda sua conformação na medida em que algumas de suas cadeias atomísticas geram e propagam descargas elétricas em face de interações estabelecidas entre estas e padrões atomísticos circundantes. No nível de análise comportamentalista, o físico poderia ter descrito uma interação organismo-ambiente. Nesse sentido, o amor existe porque há um padrão de respostas ao qual rotulamos amor, e as palavras só fazem sentido porque há esse "mundo real" no qual ancorar.

No mais, excelente texto, meu amigo. Um abraço!

Neto disse...

Senhorita Porque,possivelmente uhaushuahuha.. em alguns casos... Em outros, pode ser que o/a namorad@ presenteie por reforço positivo.

Neto disse...

Daniel, ele não existe no sentido de que não existe um conjunto de comportamentos que universalmente pode ser chamado de amor. Quais comportamentos receberão este rótulo varia de acordo com a concepção de cada pessoa. Não existe também, no sentido de que se pode falar de amor separado de provas (ou respostas), se ele é elas próprias.